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Regresso

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Sem mais nem menos surgiu o passado, corpo intranquilo feito de sons semelhantes aos rostos que amei, universo donde me excluí, mar desprovido de cais na obliquidade dos contrastes. Esta noite voltei à minha infância: menina rosada de sonhos nos bolsos, bailarina de corda na caixinha de som. À infância regressa-se solitariamente, subindo um rio sem margens, até ao lugar em que a nascente se confunde com o tempo e o tempo se transforma em espanto. Procuro, teimosamente, o rasto da brisa que me invade o corpo e apenas sei que o sonho é um risco inquietante, quando a solidão tem rosto e se conhece a posição das estrelas no âmago das palavras. Reinicio a infância no esboço do poema e circunscrevo o litoral fragmentado do que sou. Quem foi que descodificou o céu no meu olhar e me deixou na alma um deus imaginado? Quando o espaço do sonho é circular como o tempo das cerejas, ou da migração dos pássaros que fendem o infinito, inadiado é o rito da poes...