Hoje a aragem que corre é morna. Há uma certa magia nesta melodia que o vento sussurra num silêncio quase inaudível, formado pelos acordes harmónicos do cair das folhas que rolam pelo chão, nas pedras da calçada, nos jardins, nos bosques... voam sem destino, perecem com o dever cumprido, dando lugar a momentos preciosos, cores únicas, vermelho fogo, castanho terra, amarelo dourado, tons que alucinam os sentidos. Os aromas a madeiras intensificam-se, o céu azul claro mescla-se com o cinza das nuvens convidando subtilmente a chuva a juntar-se a este cenário onírico de inefável beleza. É outono, tempo de reflexão, as horas não têm pressa, o fim do dia convida ao aconchego do lar, ao conforto dos corações. É outono, tempo de mudança, de quietude, de alimentar e renovar o amor que existe em nós. É outono... Cecília Vilas Boas in ÂMBAR E MEL, Chiado Editora, 2011 ilustração * Grimshaw John Atkinson